O desafio para a equidade de gênero no mercado de trabalho começa já na infância. De acordo com Urmila Sakar (foto ilustração), chefe de programas da iniciativa Generation Unlimited (GenU), do UNICEF Global, as jovens meninas e mulheres têm cerca de metade das chances de receber educação adequada quando comparada aos homens.
“Globalmente, elas têm mais barreiras para a conectividade digital e acesso ao ensino online. Elas também acabam cuidando dos irmãos e não tendo algum retorno educacional ou financeiro por isto. Mudar este cenário ao fortalecer o acesso das meninas é fundamental para que elas ocupem diferentes espaços de liderança no futuro”, disse em evento paralelo à 68ª Comissão da Situação da Mulher (CSW), promovido pelo Pacto Global da ONU – Rede Brasil, na sede da ONU. Na ocasião, Sakar falou com execlusividade à EXAME.
Para ela, o desafio é agravado pelas multiplas crises políticas atuais. “Neste cenário de multiplas crises econômicas e sociais, as mulheres são atingidas desproporcionalmente. Em pandemias e desastres, por exemplo, vemos como elas ficam à frente do cuidado e deixam de lado momentos de aprimoramento educacional e profissional”.
Qual o papel do Brasil no combate à inequidade de gênero entre meninas e mulheres?
Estamos fortalecendo uma geração de jovens mulheres a partir de programas estruturados para a educação e ocupação em posições de trabalho. Visitei o Brasil pela primeira vez em outubro e pude entender mais sobre como as meninas têm desafios distintos no país, como acesso à internet, mudanças climáticas, raça e pobreza. Lutar para a equidade é entender esses diferentes aspectos para o desenvolvimento de uma prática mais completa.
Um exemplo é a partir do 1MiO, uma aliança brasileira que mobiliza empresas, sociedade civil, governos e, especialmente, jovens para promover oportunidades de formação profissional, com o objetivo de atingir 1 milhão de pessoas.
Já conseguimos alcançar mais de 100 empresas, 1.800 municípios e 200 mil pessoas no Brasil. Para isto, fazemos uma conexão para entender o que as empresas precisam para que as jovens tenham um aprendizado mais assertivo. Entendemos que trabalhar no encorajamento das companhias para a equidade é uma forma de mudarmos a situação atual.
Quando falamos de equidade de gênero globalmente, os desafios são distintos para o Sul Global?
Sim, inclusive entre os países dessa região. Por exemplo, em Bangladesh e na Índia, além dos treinamentos precisamos educar as famílias e as comunidades para que as meninas tenham um espaço seguro para estudar e trabalhar. Em muitos países há ainda desafios como violência de gênero e casamento infantil. Assim, é preciso um trabalho complementar que considere o todo.
Um exemplo disto é o programa Girls Education Skills Partnership, com participação de empresas como Unilever, Microsoft e Accenture. O programa focado nesses países visa acelerar meninas em STEAM (sigla para Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática) e, além disto, promover mentoria e conexão com as comunidades e empresas para que elas tenham apoio no início de suas carreiras. Quando falamos de equidade de gênero estamos falando de mudança de normas sociais e empresariais. Por isto, é essenscial envolvermos todos e, inclusive, escutá-las para o encontro das melhores soluções.
Um dos temas da CSW é o empoderamento econômico, a partir de ferramentas como o salário igual entre homens e mulheres. Como a UNICEF participa de pautas como esta?
A lacuna salarial entre homens e mulheres na mesma função é de, em média, 20%. Superar essa diferença é uma forma de promover a economia e a melhoria na vida de todos. Para isto, é preciso combinar regulamentações, investimentos e ações das companhias. É importante lembrar que a equidade salarial, assim como a diversidade e inclusão, melhora os resultados de negócios a partir de mais engajamento e inovação. Nós, como UNICEF, temos um trabalho de engajar as empresas para a educação e profissionalização de jovens, considerando a equidade. (Exame)
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