O financiamento da campanha eleitoral de Donald Trump e de deputados e senadores é uma das tantas polêmicas da eleição americana decidida na quarta-feira, 6. (Foto ilustração: Trump e o bilionário Bankman-Fried)
O multibilionário Elon Musk, por exemplo, contribuiu com mais de US$ 100 milhões para a campanha de Trump, além de ter doado US$ 1 milhão por dia para eleitores sorteados.
Musk ainda usou sua força bruta econômica ao comprar o X, antigo Twitter, e transformar a plataforma numa base para conquista de corações e mentes. Apenas nas 24h decisivas da eleição ele tuitou 200 vezes, com 955 milhões de visualizações, levantando todo tipo de suspeita sobre ajuste nos algoritmos para ampliar seu alcance.
A aposta se pagou em menos de 24 horas, já que as ações de sua montadora, a Tesla, valorizaram mais de US$ 100 bilhões. Musk ainda é cotado para um cargo no governo Trump, o que levaria a questionamentos sobre conflitos de interesse do tamanho da Casa Branca. O bilionário, em sua defesa, diz que sua investida visa “contrariar o dano” que o investidor George Soros teria feito ao sistema ao financiar causas progressistas.
Em outro movimento de compra de influência corporativa, empresários ligados a criptomoedas alocaram mais de US$ 135 milhões em 253 candidatos nos Estados Unidos. Apenas o senador republicano pró-cripto Bernie Moreno teria recebido US$ 40 milhões na campanha que levou a sua eleição em Ohio.
Se pagar para um candidato vencer levanta dúvidas morais e práticas, o que dizer de se pagar para alguém desistir. A situação surrealista poderia ter acontecido nas eleições americanas deste ano, como revela o escritor Michael Lewis no livro Going Infinite, sobre a ascensão e queda do império cripto FTX e de seu fundador, Sam Bankman-Fried.
Bankman-Fried foi o mais jovem multibilionário da lista da Forbes, com fortuna de 22,5 bilhões de dólares no auge. Era tanto dinheiro que ele pagou US$ 55 milhões por 20 horas do tempo do astro da NFL Tom Brady. Era tanto dinheiro que ele imaginou que podia convencer o ex-presidente a desistir de um novo mandato. A manobra não passou do campo das ideias, entre outros motivos, porque Bankman-Fried foi preso e mais tarde condenado a 25 anos de prisão por fraude.
Antes disso, porém, fez um pequeno estrago na política americana. Em 2020, pôs US$ 5,2 milhões na campanha vitoriosa de John Biden, o suficiente para ser um dos 3 principais financiadores. No total, ele investiu dezenas de milhões de dólares em uma centena de comitês de candidatos, sempre com o cuidado de espalhar o dinheiro de forma que não fosse rastreável.
Chegou a anunciar que pretendia investir US$ 1 bilhão em candidatos democratas na eleição de 2024. Acreditava que o investimento valia muito a pena, como explica Lewis em seu livro.
“Em um mandato de quatro anos, um presidente, trabalhando com o Congresso, dirige investimentos de US$ 15 trilhões”. Ainda assim, a soma de gastos de todos os candidatos em 2016 bateu US$ 6,5 bilhões. “Parece que não tem dinheiro suficiente na política”, dizia Sam.
Era um dinheiro que ele investia em busca de uma legislação camarada a seus negócios, mas também porque ele podia. Queria livrar o mundo de futuras pandemias (a um custo de US$ 10 bilhões), por exemplo. E queria livrar o mundo de Donald Trump.
“A investida de Trump contra o governo, e a integridade das eleições, pertenciam, na visão de mundo de Sam, à mesma lista [de ameaças] que pandemias, inteligência artificial e mudanças climáticas”, segundo o livro de Lewis.
Em 2022, Bankman-Fried começou a pesquisar de forma séria a legalidade de pagar para Trump não concorrer. Seu time tinha inclusive criado um canal com os assessores do republicano e voltaram com a informação que Trump poderia ter seu preço: 5 bilhões de dólares. O projeto não foi adiante. Trump foi eleito nesta quarta-feira após uma campanha estimada em 1 bilhão de dólares. (Exame)
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