O documento final da 16ª Cúpula dos Brics em Kazan, na Rússia, retrocedeu no apoio explícito à demanda histórica do Brasil de conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas). A expansão dos Brics de cinco para dez membros no ano passado complicou a negociação interna e, ao fim, a Declaração de Kazan, primeira reunião de líderes ampliada, deixou de mencionar de forma clara o endosso ao objetivo comum de Brasil, Índia e África do Sul. (Foto ilustração)
Agora, em vez de fazer referência nominal aos três países, o parágrafo sobre a reforma ampla nas Nações Unidas — cujo ponto central é o conselho — foi modificado e cita de forma genérica “os países dos Brics”. Na prática essa redação abarca também os novos membros plenos: Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Irã.
O texto acordado na Rússia expressa o compromisso dos líderes dos Brics em “apoiar as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, incluindo os países dos Brics, a desempenhar um papel maior nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança”. A versão anterior, emanada da Cúpula de Johannesburgo, em 2023, dizia nominalmente “incluindo Brasil, Índia e África do Sul”.
A diferença pode parecer sutil, mas oculta um obstáculo novo movido pelos países africanos recém-admitidos nos Brics: Egito e Etiópia. Ambos possuem ressalvas ao protagonismo da África do Sul no próprio continente e manifestaram essa objeção. Assim como o Brasil quer ser o primeiro latino-americano no Conselho, a África do Sul busca se posicionar como principal candidato africano.
A Declaração de Kazan também atesta agora que os líderes reconhecem “as aspirações legítimas dos países africanos, refletidas no Consenso de Ezulwini e na Declaração de Sirte”. Firmados em 2005, esses acordos regionais buscam assegurar ao menos dois assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU para o continente africano e delegam a escolha dos países à União Africana. (Estadão Conteúdo)
No Comment! Be the first one.